segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Keep on playing our favorite song

Algum tempo atrás eu decidi que não voltaria a um show de grandes proporções, devido ao fato principalmente de que os contras cada vez mais se sobrepõem aos prós: grandes multidões, ver o show de muito longe, o fato de que uma viagem do banheiro ao bar poderia se chamar "Da Lama Ao Caos", os preços exorbitantes de tudo, para no fim, ver aquela banda que já foi grande disparando seus 'lado A'. A exceção à regra que eu mesmo criei seria uma eventual visita do Queens of the Stone Age, há bastante tempo minha banda preferida. Pois bem, foi o que aconteceu.

Sensações que há tempos não me eram despertadas em um show de repente voltaram: a ansiedade para chegar logo, a preocupação de garantir um bom lugar, a sensação de "puta que pariu, vai começar!", tudo isso de volta pela primeira vez desde... sei lá quando.

Consegui garimpar o setlist que eles usaram no dia, por isso vou comentar faixa-a-faixa.

Feel Good Hit of the Summer - um pequeno chiado no som e muita, muita fumaça. Mas a gente não estava nem aí. Todo mundo correndo para a frente, se empurrando e doido pra berrar "co-co-co-co-co-cocaaaaaaaaine!" o mais perto possível de Josh Homme e companhia. Como eu queria exatamente isso, experimentar intensamente o show, tava feliz da vida enquanto tinha que batalhar para ficar de pé. E bater cabeça.

O primeiro momento de forte emoção foi a emenda da primeira com The Lost Art of Keeping a Secret, exatamente do mesmo jeito que no disco Rated R. O Edu, que nos idos de 2004 tocava essa música comigo, estava junto e foi aquela comoção. A habitual "puxada de freio" na hora do "we got something to reveal", e aquela explosão no refrão. Sensacional.

Na seqüência, 3's & 7's, que o mesmo Edu tem a teoria de que tem esse nome por causa dar marcações de bateria (quem escutar a música pensando nisso identifica fácil fácil). Nessa hora a agitação inicial não sei para onde tinha ido, eu sei que me vi cercado de fãs do Linkin Park que não faziam idéia do que estava acontecendo, e fiquei assim durante algum tempo. Mesmo assim me divertindo deveras. E os grandes momentos habituais da canção.

Sick Sick Sick veio para elevar a velocidade e manter a massa em movimento. Consegui prestar um pouco mais de atenção na banda e lembrei que Joey Castillo (bateria) e Troy Van Leeuwen (guitarra) também são grandes músicos e fundamentais na potência do QotSA tanto ao vivo quanto em gravações.

Monsters In the Parasol foi uma das pequenas homenagens do Queens para os fãs de longa data. Pouca gente sabia o que estava acontecendo, além disso o telão deu pau e ficou azul durante a música inteira, mas mesmo assim, para mim foi aquela coisa do tipo "olha, essa aqui é para vocês, minha gente, vocês sabem quem". Haha, assim eu sinto.

Burn the Witch veio para trazer de volta o público, que pulou no começo, mas depois acabou parando. A linda Long Slow Goodbye, sobre a dor de um viúvo, foi outra grande surpresa, mas como essa nem agitada é, a turba acabou dando uma amansada. Serviu para curtir Troy tocando lap steel e dar uma respirada.

Até porque, de In My Head para frente, foi só no bate-cabeça. A canção, que foi introduzida por Josh Homme com "here is a sing-along for you", foi o que subiu de volta a animação geral, e fez com que naquele movimento de massa, eu acabasse indo parar no meio de alguns outros fãs fervorosos do QotSA, o que garantiu a curtição até o final.

Quando chegou Little Sister, para mim já estava claro que aquele show seria marcante. Banda coesa, som pesado, músicas excelentes, enfim, minha banda preferida ali na minha frente soltando uma pedrada atrás da outra. Não tinha o que fazer, a não ser pular, berrar, empurrar, ser empurrado e se segurar de pé. Fazia 11º de temperatura e eu suava em bicas. Coisa que não acontecia comigo em shows havia muito tempo também.

A primeira das quatro músicas tocadas de Songs for the Deaf, o álbum supremo de 2002, foi Do It Again, não exatamente uma música conhecida, mas que se mostrou ótima para esse tipo de show, com brecadas, uivos e tudo mais que faz a turba se integrar ao show.

Uma vitaminada versão de I Think I Lost My Headache foi a última surpresa, e essa sim, totalmente aclamada e com cantos emocionados. O final acelerado mostrou toda a empolgação da própria banda, que agradeceu muitas e muitas vezes o carinho dos brasileiros e foi para a parte final da apresentação em clima de festa.

Assim começou Go With the Flow, a música favorita de qualquer recém-iniciado em Queens of the Stone Age, e que fez um barulho danado. A comoção foi geral e levou naturalmente ao já esperado ápice do show.

O maior hit da história do QotSA, No One Knows, foi de longe a música mais aclamada e o momento mais intenso. Não sabia muito bem se me juntava aos colegas batedores de cabeça ou ficava olhando Joey Castillo revivendo aquelas viradas de bateria impossíveis. Acabou daquele jeito "tudo ao mesmo tempo agora", com o pula-pula chegando em níveis bem mais altos de violência. A parada para interagir com o público, as palmas antecedendo o verso "heaven smiles above me", tudo isso me fazia chegar à conclusão de que era, sim, o melhor da minha vida.

E tudo isso foi antes do momento mais cabeçudo da história da banda, A Song for the Dead. Eu já tinha a impressão de que seria a última música, até porque, uma vez tocada ela, não resta muito o que fazer. Quando Josh Homme começou a emendar os primeiros acordes, de novo comoção geral, de novo eu de olho no que o baterista faria. E preocupado se, ao final do pula-pula, estariam todos bem no final, porque vou dizer, o final dessa música não é fácil não. Mas deu tudo certo.

Satisfeito da vida, emocionado, feliz. Vi o Pixies tranquilo e sem dar muita bola. A missão já estava cumprida. Vai demorar mais alguns anos para me arrastar a um show grande de novo. Só na próxima vez do Queens of the Stone Age.